sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz 2011!!!!

Mais um ano se inicia, e este em especial, também marca o início de uma nova década.

Que 2011 reserve prosperidade, sucesso e realizações para todos nós; nos projetos, eventos e outras atividades profissionais, como também em tudo que nos cerca; nos convívios e interações, nas amizades, nas famílias, em tudo o que nos completa, na busca pela felicidade!

Um abraço e um Feliz e Promissor Ano Novo para todos nós!

Cezar Galhart

domingo, 19 de dezembro de 2010

Tecnologias analisadas nos Shows do Paul McCartney: instrumentos (parte 2)

Para os shows musicais, muitos são os aspectos que devem ser considerados para uma avaliação pelos públicos, de forma a qualificar positivamente o evento.

Mas quando analisamos o evento sob o ponto de vista dos músicos, ou da finalidade do espetáculo (que é a música) a valorização do talento se resume na qualificação com que a sonorização é entregue aos públicos participantes.

Para os shows de Sir Paul McCartney, essa regra é levada aos mais apurados detalhes. A impressão que causa, de um modo geral, é de uma audição da sonoridade que está presente nas faixas disponíveis nos CDs, ou seja, a perfeição do resultado como se ouvido diretamente das gravações originais.

Como isso é possível? De fato, duas tecnologias se somam neste processo: qualificação técnica, dos profissionais responsáveis pelo tratamento do som (nas múltiplas formas e disponibilização para os públicos – o som que “sai” das caixas), e nos instrumentos, aqui destacados pelos equipamentos, para a mixagem e interação, no palco e direcionados para os públicos participantes, como veremos mais especificamente neste texto (o palco será analisado na próxima postagem).

Para todos nós, responsáveis diretos ou indiretos pelo planejamento/organização/gestão/operação de eventos, a interação com os recursos dimensionados para o melhor tratamento do som é fornecido pela produtora internacional por meio de um documento chamado de “Technical Rider”, que apresenta todas as especificações e exigências (para palco, sistema de sonorização e até camarins).

A entrega do som (a forma como o som é tratado e direcionado) é realizada de duas formas: captação e direcionamento para os públicos (P.A. – Public Address System – ou direcionamento para os públicos participantes) e captação e direcionamento para os músicos (Monitor System – ou direcionamento de retorno para os músicos).

A primeira entrega está relacionada ao tratamento sonoro que os públicos participantes percebem quanto à qualificação identificada nos shows. Termos como “som distinto” (quando é possível distinguir os instrumentos e compreender as melodias com palavras, ou mesmo, discursos ou frases proferidas pelos artistas) e até “som embolado” (quando não existe distinção: os sons parecem misturados).

Esse é o trabalho do engenheiro de som responsável pelo FOH Sound Engineer, ou somente FOH - “Front Of House” (ou percebido pelos púbicos que ficam de frente para o palco). Quem realiza esta função desde 1989 para Sir Paul McCartney é Paul "Pablo" Boothroyd (que também trabalhou nas últimas duas turnês do AC/ DC).

Para a mixagem principal, “Pab” (como é conhecido no mercado de entretenimento) mistura os sons captados em um par de consoles analógicos Midas XL4, com as entradas principais na mesa frontal, e os microfones de ambiência, captação da bateria, teclados, piano, efeitos e reprodução submixados da mesa da esquerda. Ele dispensa a capacidade de automação das mesas XL4 (que são referências para em mixagem analógica, com recursos tais como pré-amplificação de saída e resposta imediata dos controles de equalização do som – e fáceis de operar), embora ele utilize alguns presets (ajustes pré-definidos) para restaurar a posição dos faders no topo de cada número (“faders” são os potenciômetros – ou resistores variáveis controlados por botões, ou “knobs” – que são utilizados para volume, atenuação, equalização e outros parâmetros).

Figura1: Mesa/Console Midas XL4 – clássica referência em mixagem analógica. Possui uma placa de som analógica com 48 entradas mono, com 12 auxiliares, 8 sub-grupos de áudio, 8 grupos VCA, 8 grupos de Mute, entre outros recursos. Cada canal de entrada mono tem um equalizador de 4 bandas e saídas auxiliares com atribuições de pré / pós individualmente.



Especificamente no Brasil, Boothroyd utilizou dois consoles de mixagem Venue Profile da Digidesign (parte da empresa americana Avid Technology), com 24 entradas independentemente controladas e oito saídas, sendo todos os controles motorizados com sensibilidade ao toque e saídas com enconders (dispositivos que gravam as posições atuais ajustadas nos controles de forma que possam ser comparadas com posições desejadas – e voltar às posições gravadas), e 8 GPIs (GPI = general purpose interface - interfaces de uso geral) de saídas e mais 8 GPIs de entradas que permitem à mesa realizar realimentações acionadas por interruptores (chaves) simples.

Figura 2: Digidesign Venue Profile - Mesa/console digital com 24 canais – sendo que cada um também oferece processamento de alta qualidade, incluindo um equalizador paramétrico de 4 bandas com filtro passa-alta separado, compressor/limitador, expansor/gate e quatro inserções de plug-in. O console também inclui oito faders de saída, oito botões de função totalmente atribuíveis e oito entradas e saídas de GPI (interface de propósito geral), que permite que equipamentos externos sejam usados juntamente com o software Event List do VENUE para acionar macros; por exemplo, definir um tempo de retardo de plug-in ao tocar em uma chave a pedal ou botão de função.



Na captação de som – propriamente dita - Boothroyd prioriza microfones da marca americana Shure em toda a lista de entrada, utilizando microfones condensadores KSM-32 nos amplificadores de guitarra – para o guitarrista Rusty Anderson, que utiliza amplificadores “÷13” (produzidos pela Divided for Thirteen) e o guitarrista/baixista Brian Ray, que utiliza um amplificador Electroplex Rocket 50 – e mais um microfone SM57 adicional no amplificador Vox que Sir Paul McCartney usa para a sua guitarra Les Paul '58. O amplificador de baixo da marca americana Mesa Boogie de Sir McCartney é captado por um microfone Beta 57, preferido por “Pab” pela performance nas médias frequencias, também utilizado no amplificador e caixa da marca Ashdown que Ray usa no baixo, quando Sir Paul McCartney toca outros instrumentos. Todos os microfones para os vocais são Shure Beta 58A, com exceção do baterista Abraham Laboriel Jr., que usa um Beta 57A.



Figura 3: Shure KSM-32 - Microfone condensador cardióide, c/ atenuações de 0dB ou -15dB, uso geral em gravações e ao vivo.



Figura 4: Shure SM57 - Microfone dinâmico cardióide, direcional perfeito para captar o som desejado sem ruidos indesejados, e usado para microfonar amplificadores de guitarra e baixo, na bateria em tons, surdos, caixa, pratos , chimbal , percussão e instrumentos de sopro. Sistema de redução de ruidos Shock Mount. 




Figura 5: Shure Beta 57 - Microfone supercardióide dinâmico direcional desenvolvido para aperfeiçoamento de som profissional com maior isolamento das outras fontes de som. 




Figura 6: Shure Beta 58 - Microfone dinâmico supercardioide com ganho de saída para vocal. Tem uma resposta de frequência de forma que seja ideal para vocais direcionais.


Além da performance técnica, outra preocupação reside nos aspectos visuais e estéticos, que tornam os Shows de Paul McCartney incomparáveis e inesquecíveis. Para tanto, ”Pab” mudou a configuração dos microfones para a bateria (que poderiam “poluir” e dificultar a captação das imagens do baterista), com a utilização de mini-condensadores Audio Technica ATM35 posicionados a poucos centímetros do sino de cada prato. Além do aspecto estético, a menor distância dos microfones proporciona isolamento na captação do som, e melhor clareza na mixagem.


Figura 7: Audio Technica ATM35 - Resposta nítida e bem balanceada, até mesmo sob altos níveis de pressão sonora. Disponibilidade de elementos intercambiáveis para padrões polares cardióides, subcardióides e omnidirecionais.

Para os efeitos de ambientação, Boothroyd usa um par de duplos TC Electronic M-5000s, que fornecem uma reverberação básica para o vocal e um efeito de coro, já pré-definido pelo fabricante. As outras duas máquinas proporcionam uma reverberação metálica para a bateria e ajustes percussivos para os instrumentos. Ele também usa um delay da empresa TC Electronics - modelo D•Two - para ecos e atrasos de resposta em algumas canções. Como compressores, “Pab” usa um Avalon AD2044 no vocal principal, e tem dez compressores DBX 160 SL distribuídos nos backing vocals e na maioria dos instrumentos. Outro compressor, um noise gate da Drawmer DS-201 também minimiza os sinais de fuga na captação da bateria.
 
Figura 8: D●Two - Multi Tap Rhythm & Delay – Processor digital, que além do tratamento de atraso nas notas musicais, possui controle para padrões de ritmo real de forma direta - ou quantizados de acordo com um ritmo específico e subdivisão musical. Os atrasos e padrões rítmicos que podem ser até 10 segundos cada. Controla o número exato de repetições com Absolute Repeat Control (Controle de Repetição Absoluto).






Figura 9: Avalon AD2044 - Compressor configurado para amplificadores de Classe A para tratamento puro de sinal de áudio e monitoramento por sistema ótico. Esses elementos óticos -  "invisíveis" - habilitam o AD2044 a entregar um sinal totalmente claro e definido, com reduzids ruídos de baixa freqüência para o ganho do percurso do sinal. Controles variáveis de ataque e reforço, seja para uma suave compressão ou distorção controlada.


Cada show é registrado em condições de ser lançado como DVD e CD em duas mesas Tascam MX-2424 com gravação em disco rígido, que provêm um total de 48 pistas de gravação. Destas, oito são dedicadas a microfones que captam a reação da plateia: quatro Shure SM-91s na frente do palco (um par perto do centro e mais dois nos cantos) e quatro Shure KSM-32s dispostos em pares na parte de trás e nas laterais do local (estádio ou anfiteatro). Para conservar as trilhas, Boothroyd remistura alguns canais: os microfones dos vocais de Sir Paul McCartney compartilham a mesma faixa; a caixa de bateria (snare drum) que Laboriel Jr. usa com as “vassourinhas” (brushes), durante os números acústicos do Show, fica inserida e somada no kit de microfones para a bateria. No entanto, todos os oito microfones cardioides são individualmente controlados para uso futuro, em pós-produções, para ambiência e surround.


Figura 10: Tascam MX-2424 - é um gravador profissional de 24 pistas (entradas), e com padrão de 24 bits em disco rígido. O MX-2424 oferece a praticidade, desempenho e confiabilidade de um gravador multipistas dedicado, ao mesmo tempo em que oferece a sofisticação de um plataforma digital portátil. Outra vantagem é a versatilidade para a interface analógica e digital, com placas de opção disponível para todos os formatos de áudio comuns




Figura 11: Shure SM-91 – é um microfone condensador cardióide ideal para ser usado no bumbo da bateria e em outros instrumentos graves. Dispensa o uso de clamp ou pedestal, além de não se movimentar em relação ao local no qual foi posicionado. Sua resposta de freqüência vai de 20 Hz a 20 KHz, enquanto seu excelente nível de pressão sonora suporta até 161 dB (em nível de pressão sonora)



Para os Shows de Sir Paul McCartney no Brasil, a empresa fornecedora de todos os equipamentos e estruturas foi a Gabi Som, uma das maiores empresas de locação de equipamentos de som do hemisfério sul, e uma das maiores proprietárias de sistemas JBL VerTec do mundo.

O sistema de PA (caixas de saída para os públicos) foi formado por colunas de line array (caixas suspensas – conforme fotos) JBL DrivePack distribuídos por quatro arrays principais, sendo dois suspensos de cada lado do palco, formados por 20 módulos VT4889ADP. Nas torres de retorno, duas colunas (uma de cada lado) com 6 módulos VT4889ADP e mais 6 módulos de subs VT4880ADP na base.

Figura 12: Vista do sistema frontal - Show em Porto Alegre – 07 de novembro de 2010. Fonte: Cezar Galhart.

Figura 13: Torre de retorno – Show em Porto Alegre – 07 de novembro de 2010. Fonte: Cezar Galhart.



Os módulos JBL DrivePack DP-3 possuem tecnologia BCA (Amplificação Balanceada por Corrente Elétrica) da empresa Crown, incorporando circuitos de Classe I (que são sistemas de proteção de entrada, e inversão de 180º no sinal de saída) com modulação de temperatura compensada (para evitar sobreaquecimento). Circuitos de realimentação permitem ao JBL DrivePack entregar especificações de áudio em mais baixo ruído e distorções. A potência nominal para os três canais é de 3.000 watts RMS (na carga) para o VT4889ADP e 3.500 W RMS para o subwoofer VT4880ADP.

Figura 14: VT4889ADP - Módulo superior da linha JBL VerTec, também denominado Powered Fullsize Line Array Element (elemento em dimensões maiores e reforçadas para a configuração de caixas suspenas Line Array). Podem vir de fábrica com o módulo eletrônico DrivePack, com múltiplas combinações de processamento, incluindo amplificadores da marca Crown, processamento de sinal da dbx e monitorização e controle remoto através do protocolo HiQnet. Estas versões DP permitem através dos módulos de entrada dbx equalizer, criar pontos de crossover, alinhamento temporal e proteção a todos os alto-falantes. Cada módulo de entrada DPIP tem entradas analógicas e processamento digital.



Figura 15: VT4880ADP - Módulo inferior para Sub (graves) da linha JBL VerTec Ultra Long Excursion Arrayable Subwoofer (Subwoofer para Line Array para longas turnês). Podem vir de fábrica com o módulo eletrônico DrivePack, com múltiplas combinações de processamento, incluindo amplificadores da marca Crown, processamento de sinal da dbx e monitorização e controle remoto através do protocolo HiQnet. Estas versões DP permitem através dos módulos de entrada dbx equalizer, criar pontos de crossover, alinhamento temporal e proteção a todos os alto-falantes. Cada módulo de entrada DPIP tem entradas analógicas e processamento digital.





Por último, Boothroyd também usa o novo equalizador digital da Klark-Teknik Helix, um DN9340E, na mixagem geral.


Figura 16: DN9340E - Equalizador digital estéreo da Klark-Teknik Helix, com duas faixas de 31 bandas gráficas e cinco modos de escolhas para o fator de qualidade Q: constante; recíproca; proporcional; emulação dos parâmetros do equalizador DN360 e DN27; e equalizador de 12 bandas paramétricas. Todas as bandas são configuráveis entre 20Hz a 20kHz.




Fontes

Audio-Technica. ATM35 Cardioid Condenser. http://www.audio-technica.com/cms/site/f50938e360102635/index.html
Avalon Design. AD2044. http://www.avalondesign.com/comp2044.html
Avid Audio. Digidesign Venue Profile. http://www.avid.com/US/resources/digi-orientation
JBL. Tour Sound. Vertec – VP – VRX - VT4889ADP. VT4880ADP. http://www.jblpro.com/catalog/general/Product.aspx?PId=237&MId=4
Klark-Teknik . Helix DN9340E. http://www.klarkteknik.com/dn9340e.php
Midas Consoles. Midas XL. http://www.midasconsoles.com/
Shure Americas. Microphones. KSM32/ SM57/ Beta 57/ Beta 58/ SM 91. http://www.shure.com/americas/products/microphones/index.htm
Tascam Teac Professional. MX 2424. http://tascam.com/product/mx-2424/downloads/
tc electronic. D-Two - Multitap rhythm delay. http://www.tcelectronic.com/D-Two.asp

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Tecnologias analisadas nos Shows do Paul McCartney: técnicas

Dimensionar um evento como o Show do Paul McCartney em números não traduz exatamente o significado e os desdobramentos do espetáculo.

Mas quando analisado sob a ótica técnica, como uma tecnologia, pode-se avaliar que houve subdimensionamento no evento, mas não de forma quantitativa, e sim, qualitativa.

Como analisei no tópico anterior, um evento como esse deve ser dimensionado, analisado e avaliado como uma oportunidade ímpar. As expectativas são imensamente superiores a outros eventos com mesmo número de participantes e até mesmo, mesmos investimentos.

A realização de um evento com tamanha proporção requer diversos recursos, mas no que se refere aos humanos, a necessidade de contratação de profissionais capacitados para o atendimento das necessidades dos públicos pode ser o diferencial entre um evento qualquer e um espetáculo inesquecível.

No que se refere aos profissionais responsáveis pelos requisitos cenográficos, tecnológicos e estruturais, as equipes tiveram desempenhos sensacionais.

Mas vamos aos fatos...

Conforme também já mencionei no tópico anterior, muitos públicos não economizam esforços para ficarem em locais mais próximos do palco, como forma de tornar o evento exclusivo – pela maior e melhor proximidade com o artista, no caso, um BEATLE. Assim, é natural que ocorra uma antecipação na chegada dos públicos participantes do evento, em muitas horas antecedentes ao início do Show.

Filas com centenas, e até milhares de fãs se aglomeraram nos dois eventos aqui analisados. E os problemas identificados, ficaram quase que exclusivamente nos aspectos humanos técnicos de execução do evento, aqui entendidos como os profissionais identificados para a realização das funções operacionais do evento. Reafirmo que na entrega do Show para o público, as equipes de sonorização, iluminação e recursos cênicos e performáticos teve um desempenho acima do esperado.

Para os outros, cada evento será analisado, na sequência.

Show em Porto Alegre – dia 07 de novembro

Em Porto Alegre, o Show foi realizado no Estádio José Pinheiro Borda, também conhecido como Gigante da Beira-Rio, sede do clube de futebol Sport Club Internacional (a estrutura, infraestrutura e entorno serão analisados em outro texto).

Figura 1: Entrada principal (pela A. Padre Cacique) - Estádio Beira Rio - Porto Alegre (RS). Fonte: Cezar Galhart

Entrada e organização das filas - Chegamos ao estádio no horário de 15h50min, e o acesso à pista (gramado) seria pelo portão 6.

Mesmo com sinalização, confirmei com pessoas que lá estavam se a fila na qual eu acreditava ser a minha seria a correta. Não havia profissionais identificados para prestarem informações.

Filas e aglomerações paralelas ocorriam, mesmo com a denúncia e reclamação de pessoas que estavam na fila desde a manhã daquele domingo, ou mesmo desde a noite anterior. A organização até aquele momento era realizada pela Brigada Militar, de forma eficiente para as obrigações dos policiais ali presentes e atuantes. Também, era possível identificar os seguranças do clube, mas com funções de segurança patrimonial.
Em torno de 16h30min apareceram as primeiras pessoas, identificadas com coletes coloridos, e a inscrição de “orientador”, com respectivo número de identificação do profissional (?) contratado. Mas estavam em grupos, e conversam entre elas.
Somente no horário de 17h20min – 10 minutos antes do horário previsto para a abertura dos portões – os “orientadores” agiram de forma a tentar organizar as filas que naquele momento já eram aglomerações indecifráveis. Identifiquei ao todo cinco profissionais.

 Figura 2: Orientadores de filas - Estádio Beira Rio - Porto Alegre (RS). Fonte: Cezar Galhart

Para surpresa de todos, muitos daqueles que haviam recém chegado foram conduzidos por uma “orientadora” a formarem uma fila, paralela à fila daqueles que chegaram antes, mas na frente da maioria que estava desde o início da tarde de domingo.

Na entrada, triagem, realizada por seguranças experientes para a revista e verificação dos pertences (mochilas, bolsas), e duas profissionais que ocupavam posições nas catracas, sendo que uma fazia a leitura do ingresso com scanner, e a segunda perfurava o ingresso, com agilidade.

  Figura 3: Orientadores de triagem - revista - Estádio Beira Rio - Porto Alegre (RS). Fonte: Cezar Galhart

  Figura 4: Orientadores de triagem - ingressos - Estádio Beira Rio - Porto Alegre (RS). Fonte: Cezar Galhart

Análise do processo:
  • Faltaram treinamento e capacitação dos profissionais orientadores (identificados por mim), tanto para a avaliação da situação momentânea, interação com os participantes (comunicação), respeito e educação.
  • O horário de chegada dos profissionais orientadores e dos participantes foi incompatível, o que naturalmente geraria conflitos e insatisfação. No planejamento operacional, a necessidade de presença de profissionais capacitados é condição essencial de resultados positivos, na organização e tranquilidade para o evento.
  • Não havia um plano operacional para as equipes de orientadores. Quando chegaram, agruparam-se, ao invés de assumirem posições predefinidas. É importante um mapeamento das funções e posições dos profissionais nos diversos lugares, acessos e ambientes do evento.
  • A triagem foi rápida e eficiente, com profissionais experientes e capacitados (mais sobre a triagem na análise dos instrumentos como tecnologias).

Venda de alimentação e souvenires – Como alimentação, quiosques de bebidas e comidas no lado externo, e barracas para souvenires nos lados externo e interno.

Para a alimentação, não havia quaisquer indicações para inspeções dos órgãos competentes, e as bebidas, que em função do calor acabaram rapidamente, eram entregues em temperatura ambiente. O atendimento também foi insatisfatório, principalmente nas barracas situadas no lado externo.

Havia ambulantes, mas o contato foi superficial, sem a possibilidade de avaliação.

 Figura 5: Vendedores ambulantes - sorvete - Estádio Beira Rio - Porto Alegre (RS). Fonte: Cezar Galhart

Para os souvenires vendidos em Porto Alegre, mais tranquilidade, mas em parte pela experiência das profissionais que trabalhavam nesses postos. Atendimento rápido, com objetividade e coordenação.

 Figura 6: Quiosque de souvenires - Estádio Beira Rio - Porto Alegre (RS). Fonte: Cezar Galhart

Análise do processo:
  • Subdimensionamento dos recursos (bebidas) para os públicos. Talvez, em parte, pela falta de experiência dos profissionais (?) atuantes.
  • Há necessidade de acompanhamento dos serviços de alimentação pelos profissionais da ANVISA e órgãos competentes. A situação no Brasil é amadora e precária.

Show em São Paulo – dia 22 de novembro

Em São Paulo, o Show foi realizado no Estádio Cícero Pompeu de Toledo, também conhecido como Morumbi, sede do clube de futebol São Paulo Futebol Clube (a estrutura, infraestrutura e entorno serão analisados em outro texto).

Entrada e organização das filas - Cheguei ao estádio no horário de 16h00min, com chuva intensa, e o acesso à arquibancada (Setor Vermelho) seria pelo portão 15B.

Com sinalização apenas na respectiva entrada do estádio, as filas se formavam nas ruas de acesso lateral ao estádio, particularmente pela Rua Dr. Erasmo Teixeira de Assunção. Os profissionais identificados para prestarem informações ficaram protegidos em uma tenda (preta), ao lado de um estabelecimento comercial.

Figura 7: Fila para Arquibancada (Setor Vermelho) e Pista - Estádio Morumbi - São Paulo(SP). Fonte: Cezar Galhart

Filas e aglomerações paralelas ocorriam similares ao percebido em Porto Alegre.

No horário de 17h20min, já na fila, surgiu a primeira profissional que conseguiu organizar a fila. Mérito de uma profissional com postura e demonstrava experiência.

   Figura 8: Fila organizada para Arquibancada (Setor Vermelho) - Estádio Morumbi - São Paulo(SP). Fonte: Cezar Galhart

Já na entrada, a triagem era realizada pela Polícia Militar. Contradições e falhas de comunicação faziam com que copos de água fossem barrados, assim como jornais e papéis (com a alegação de serem inflamáveis, em um dia com chuvas torrenciais), e guarda-chuvas e sombrinhas fossem liberados.

  Figura 9: Entrada e triagem - Estádio Morumbi - São Paulo(SP). Fonte: Cezar Galhart

Na catraca, apenas uma profissional que realizava a coleta dos ingressos e validação no sistema de captação existente (análise em texto sobre os equipamentos como tecnologias).

  Figura 10: Entrada e triagem - Estádio Morumbi - São Paulo(SP). Fonte: PlanMusic

Análise do processo:
  • Acredito que a profissional responsável pela organização e orientação das filas teve capacitação, para este ou eventos anteriores, mas demonstrou tranquilidade e objetividade, sem faltar com a educação ou respeito, além de senso de posicionamento e orientação, função básica da mesma.
  • A avaliação do horário de chegada dos profissionais orientadores e dos participantes é a mesma para o Show realizado em Porto Alegre.
  • Falhas de comunicação, nas informações transmitidas pela produtora, para a proibição de objetos, e a atuação da Polícia Militar, na execução da triagem e recolhimento dos pertences dos participantes.

Venda de alimentação e souvenires – Como alimentação, ambulantes nos lados externo e interno, e barraca para souvenires no lado interno.

Para a alimentação, ambulantes despreparados, e até certo ponto, inconsequentes. Durante o Show, passavam pelas pessoas, gritavam nos ouvidos das pessoas e batiam as caixas de isopor nos participantes (como se empurrassem), sem sequer pedir licença.

Para os souvenires vendidos em São Paulo, um agravante. Pessoas despreparadas, mal-educadas e até desdenhosas vendiam os souvenires oficiais no acesso às arquibancadas do setor vermelho. Além de menosprezarem os consumidores (que ocupavam de forma ordenada os lados e frente do quiosque), ainda faziam questão de ignorarem pedidos e reclamações. 


 Figura 11: Barraca de souvenires - Estádio Morumbi - São Paulo(SP). Fonte: Cezar Galhart

Análise do processo:
  • Amadorismo na condução profissional para as duas situações.
  • Ambulantes desqualificados e imprevisíveis, incompatíveis com os públicos do evento.
  • Vendedores dos quiosques irresponsáveis e despreparados para o exercício de atividades vinculadas ao atendimento ao público.

Nestes itens analisados, para os dois shows, fica claro o abismo existente entre atuação em eventos e capacitação de profissionais atuantes nos eventos.

Para os poucos destaques positivos, exemplos a serem seguidos.

Para os muitos destaques negativos, preocupação e necessidade urgente de revisão dos processos, e qualificação dos profissionais, responsáveis mesmo pela organização operacional do evento e até dos responsáveis pelo recrutamento e seleção de quem trabalhará nos eventos.

A técnica como tecnologia chave de um evento surge como um paradigma a ser suplantado no Brasil, como necessidade básica para a profissionalização do setor, e para que o Brasil ocupe melhores posições como referência para turnês mundiais de artistas consagrados. Esse amadorismo não pode persistir.

No próximo texto, os equipamentos como tecnologias nos Shows do Paul McCartney.



Tecnologias analisadas nos Shows do Paul McCartney: conhecimento

Nada mais oportuno do que analisar dois dos mais significativos eventos realizados no Brasil em 2010: os shows da turnê “Up and Coming” do Paul McCartney - simplesmente, um BEATLE – realizados em duas capitais brasileiras.

Eu teria que criar um outro Blog apenas para analisar as inovações, a criatividade, a genialidade, a versatilidade, além do legado, tanto da maior banda de todos os tempos (The Beatles) como da carreira desse Músico Brilhante e incomparavelmente Carismático, nos discos com The Wings ou na carreira solo.

Mas o foco do Blog está nas tecnologias, e nesse texto, o conhecimento percebido como uma tecnologia competitiva.

Nas últimas duas décadas, muitos shows e festivais internacionais têm sido realizados em algumas cidades no Brasil, mais particularmente em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

A turnê “Up and Coming” teve três datas no Brasil, sendo uma em Porto Alegre (dia 07 de novembro de 2010) e outras duas em São Paulo (dias 21 e 22 de novembro).

 Figura: Banner Oficial da "Up And Coming Tour" - Fonte: Blog Diário dos Beatles.

Nas duas cidades, estádios de futebol foram definidos para a realização dos shows, em função de algumas justificativas:

  • Adaptabilidade e facilidade para a montagem, realização e desmontagem do evento.
  • Estruturas e infraestruturas disponíveis.
  • Mapeamento facilitado para a comercialização (espaços setorizados) e mapeamento facilitado para a operação (descarga de materiais e acesso para a montagem/desmontagem).
  • Condições viáveis de locação dos espaços e produtos/serviços necessários.

Mas, por mais dezenas de shows já tenham sido realizados, os mesmo problemas persistem. E em parte, esses se resumem em falta de percepção para a essência dos shows, o que demonstra também falhas no conhecimento sobre a dimensão dos shows.

E isso está intimamente ligado à essência que cada evento possui, com suas características, particularidades, especificações.

Especificamente para os shows, estes eventos são identificados pelas apresentações para determinados públicos-alvos que buscam entretenimento, com o fim cultural ou não, relacionados a artes como a música, dança, teatro ou outra modalidade (MEIRELLES, 1999, p. 60). Os grifos são propositais e destacam três aspectos fundamentais.

Antes disso, naturalmente, a essência de um show está na própria tradução da palavra – do inglês “to show”, mostrar.

E nesta demonstração, o primeiro aspecto está relacionado à apresentação. A expectativa criada para alguns shows, principalmente quando são de artistas internacionais, conferem a esses eventos dimensões incomparáveis a outros tipos de eventos. Elevados investimentos em produção, considerável demanda de interessados, altos riscos para o atendimento das expectativas, também elevadas.

A essas apresentações, associam-se marcas e nomes, de empresas de características e interesses/finalidades diversos, seja para a promoção ou viabilidade do evento. Muitos são os casos de sucesso, ou retumbante fracasso nesse contexto (que serão analisados em textos posteriores).

Outro elemento fundamental na apresentação artística é a necessidade de proximidade com o objeto de apreciação. Para os shows, a aproximação com o(a)(s) artista(s) é uma forma de interação quase que personalizada e particular. Para alguns públicos, quanto mais próximo do palco, maior a relação de exclusividade do show. E para isso, esses públicos não diminuem esforços e sacrifícios para atenderem essas necessidades.

Outro aspecto é a busca do entretenimento, que compreende diversas atividades, mas sempre com a finalidade de diversão, distração, prazer. E para tanto, os shows devem respeitar essa condição em todos os itens, seja para a melhor forma de diversão, em ambientes confortáveis e adequados, até infraestrutura de acomodação e acesso.

E como último aspecto destacado, a busca pela arte. A contemplação da arte não pode ser associada a outras formas ou tipos de eventos, senão por aqueles que valorizam a produção cultural, de forma contemplativa, participativa e interativa.

Com esses três aspectos, o conhecimento como tecnologia permite uma ampla percepção da importância e da dimensão dos shows para os apreciadores de artes, e mais diretamente, para os fãs.

É inadmissível aceitar que mais especificamente para os shows realizados no Brasil o tratamento que é dado para os shows seja comparado com outros eventos (jogos de futebol, por exemplo), como uma regra imutável, um paradigma intransponível.

Assim, torna-se fundamental a profissionalização e mudança na concepção de produtoras, espaços de eventos e órgãos de apoio à organização, para o atendimento dessas necessidades e condições de melhor aproveitamento dos shows, como, em alguns casos, oportunidades únicas e definitivas para a satisfação plena de necessidades culturais e para a realização de sonhos.

Imagine tudo isso analisado para a realização do Show de um BEATLE.

Será que todos esses itens foram analisados e dimensionados a contento?

É o que analisaremos nos próximos textos.


Referências

Blog Diário dos Beatles. Grande procura na pré-venda dos ingressos para o show em Porto Alegre. Disponível em: http://diariodosbeatles.blogspot.com. Acesso em 08.dez 2010.

MEIRELLES, Gilda Fleury. Tudo sobre Eventos. São Paulo: Editora STS, 1999.

Veja.com. Paul McCartney no Brasil. Disponível em: http://veja.abril.com.br/tema/paul-mccartney-no-brasil. Acesso em 08.dez 2010.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Instrumentos básicos para o planejamento e organização de eventos

Quais seriam os principais instrumentos, necessários à organização e planejamento de eventos (diversos)?

A resposta traz nostalgia e mais uma percepção diferenciada para a definição de tecnologias, assunto chave deste blog.

Os instrumentos são os mesmos utilizados nos últimos 20 anos (por mim), e por certo, utilizados por muitos profissionais nas últimas décadas: caderno, lapiseira, calculadora e régua.

Pode causar surpresa qualquer um desses itens, mas posso garantir que são os companheiros de muitos projetos desenvolvidos e atividades desempenhadas desde os primeiros passos no setor de eventos.


Ainda tenho arquivadas as folhas dos cadernos com as principais anotações que fiz para alguns dos eventos mais significativos, como coordenador e como supervisor operacional. Rascunhos que o tempo não apagará e que não precisam de nenhuma atualização ou “upgrade”.

E mais: o uso intenso desse recurso! O último caderno – em uso – eu ganhei de brinde em 2006 (estamos em 2010), e aproveito cada linha, cada espaço, de forma a “sustentabilizar” este recurso (nada de desperdícios).

A lapiseira pode ser até um instrumento em desuso, por motivos diversos. Mas para todo esboço de projeto, ainda ela se torna recorrente para as minhas anotações e correções principais, ainda mais para os croquis e linhas de apoio para as listagens de recursos, espaços, estruturas, etc. Também, torna-se um recurso reaproveitável, à medida que não é descartável, e a matéria-prima essencial para o uso (minas de grafites) tem maior durabilidade e menor desperdício.



Mesmo como acessório do computador – ou através de uma planilha financeira – ainda uso a mesma configuração de calculadora para a dimensão dos custos, projeções de receitas e públicos, e para controles estatísticos simples para os resultados esperados. 

De preferência, com células solares (nada de pilhas e baterias).



E por fim, o uso de régua como recurso para a construção de desenhos, linhas e para a medição de objetos diversos. 

De fato, aqui, este elemento deverá vir no plural: réguas. Um diferencial nesses elementos também está e muito relacionado ao tipo de régua, pelas diferentes finalidades que cada uma apresenta (e também, diversos nomes). Eu uso 4 modelos: transferidor (para curvas e ângulos); régua em lâmina (para linhas e desenhos básicos); trena (fita métrica de metal autoretrátil) e o mais importante, o escalímetro (um conjunto de réguas com marcações em escalas diferentes).

Alguém já teve a péssima experiência de elaborar um projeto de um evento, ou mesmo “montar uma sala”, e o evento não “cabia” no espaço?

Breve estória: em 2002 organizei um congresso, que compreendia diversas atividades, dentre elas um tutorial para 120 participantes. Na “compra” do espaço para essa atividade, a planta que me fora passada permitia a formatação da sala para até 150 participantes em formato escolar, disposto em mesas (conhecidas como pranchões) com 3 cadeiras. Seriam necessárias 40 mesas e 120 cadeiras.

O responsável comercial apresentou um folder com uma planta da sala, em formato escolar, com 50 mesas e 100 cadeiras. Na visita ao espaço, estranhei que a sala parecia mais estreita que o “desenho” no folder. Não era só impressão: todos os recursos (sala, cadeiras, mesas) estavam fora de escala...

Na montagem, não couberam as mesas, apenas seriam possíveis 105 cadeiras formatadas em auditório reto sem corredor central (espaço para circulação) e os outros participantes inscritos (15) tiveram que ser acomodados no fundo na sala (literalmente, “encostados” na parede) e alinhados à tela de projeção.

Assim, se você ainda não tiver um escalímetro, providencie para ontem!

Com esses simples instrumentos, tenho certeza que você terá condições de planejar e organizar muitos eventos. E com simplicidade, todos esses instrumentos são importantes tecnologias!!!

Meu "kit" básico

Nos próximo texto, dicas para a preparação de um kit com os instrumentos essenciais para a operação em eventos!
P.S.: Dedico este este, in memoriam, à Ana Paula e ao Ronaldo... Sem palavras... Descansem em Paz!!!

Fontes das imagens: (1) BP Inc. (2) Station Presentes (3) GloboEsporte.com (4) Dibujo Técnico (5) Acervo pessoal.